
Le rendez-vous da gestão francesa: o savoir-faire da Amiral Gestion, Groupama AM e Tikehau Capital em tempos incertos
Recentemente, as gestoras francesas Amiral Gestion, Groupama AM e Tikehau Capital estiveram reunidas em Lisboa para partilhar as suas perspetivas macroeconómicas e visões sobre diversas classes de ativos. Cada uma delas destacou ainda um fundo representativo da sua abordagem de investimento atual, ilustrando como aplicam as suas estratégias num contexto económico bastante desafiante.
Começando pela perspetiva macroeconómica, a Amiral Gestion projeta um crescimento sólido, embora moderado, na zona euro, estimando uma expansão entre 1 e 2% nos próximos dois anos, sem sinais de recessão iminente. Segundo Borja Aguiar, diretor de Vendas da entidade, “a inflação está sob controlo do BCE, com possibilidade de cortes nas taxas de juro no início do próximo ano”. Em contraste, o cenário nos Estados Unidos revela maior incerteza. “Há uma certa desconexão entre a Fed e o governo, o que gera instabilidade”, refere, apontando para o risco de recessão ou, pelo menos, de uma desaceleração económica até ao final do ano.
Já a Groupama AM adota uma abordagem mais prudente, ainda que mantenha uma expetativa de crescimento positivo tanto para os EUA como para a Europa. Juan Rodriguez-Fraile, responsável de Vendas para o mercado ibérico, projeta uma expansão de cerca de 1% para a economia americana e entre 0,7% e 0,8% para a europeia, valores ajustados pelas atuais tensões comerciais. “Podemos enfrentar uma recessão técnica, com impacto mais significativo sobre a inflação americana”, alerta.
Neste contexto, a Tikehau Capital reforça o papel determinante das tarifas comerciais. “O impacto das tarifas foi decisivo, com um trimestre negativo nos Estados Unidos e positivo na Europa”, observa Christian Rouquerol, diretor-geral da gestora. A Tikehau Capital antecipa um crescimento entre 0,5 e 1% nos Estados Unidos e de cerca de 0,8% na Europa, em linha com as previsões das companheiras de painel.
Borja Aguiar, diretor de Vendas, Amiral Géstion
“Estamos focados em ativos de qualidade, que protegem contra a volatilidade e a incerteza e essa qualidade pode ser encontrada tanto nos EUA como na Europa”
Para o rendimento fixo na Europa, a Amiral Gestion recomenda aumentar a duração, pois acredita que “a tendência de queda nas taxas de juro deve continuar, tornando positivo o posicionamento em maior duração”. Quanto a spreads de crédito, a gestora vê a situação atual como uma oportunidade.
Nos EUA, o profissional ressalta a importância da seletividade e da proteção cambial: “Se optarmos por fazer cobertura cambial, o retorno ajustado ao risco compensa, mas é preciso ser bastante seletivo. Focamos na qualidade, que é a melhor proteção contra a volatilidade e incerteza atualmente”.
Alguns setores poderão ser mais penalizados, particularmente devido ao impacto das tarifas. Neste contexto, a Amiral Gestion reforça a importância da qualidade, uma relevância que se estende também às ações. “Acreditamos que os mercados podem ser positivos, mas será essencial manter uma abordagem seletiva. Se nos focarmos na qualidade, teremos menor volatilidade”, explica o profissional.
Sextant Quality Focus
Para este evento, em linha com o posicionamento descrito anteriormente, a Amiral Gestion trouxe o Sextant Quality Focus, um fundo de ações que combina uma abordagem de investimento em empresas de alta qualidade com uma rigorosa avaliação do seu valor, “o que não é muito comum”, refere Borja Aguiar. A estratégia procura identificar empresas que apresentam elevado retorno sobre o capital investido e operam em setores com ativos intangíveis, receitas recorrentes e poder de fixação de preços. “Investimos em empresas de qualidade, mas sempre atentos à valuation, porque uma má avaliação da mesma pode atrasar significativamente os retornos, mesmo que a empresa seja excelente,” refere.
Para ilustrar esta visão, a Amiral Gestion recorre a um estudo da AQR Capital Management que demonstra uma carteira Long-Short Quality vs Junk Bonds - com posições longas nos 30% das empresas com melhor qualidade e posições curtas nos 30% das empresas de pior qualidade - oferece uma rentabilidade anualizada de 5% ao ano desde 1989.
Contudo, “se não considerarmos a valuation, o retorno positivo pode demorar demasiado a materializar-se”, explica Borja Aguiar.
O processo de seleção do fundo parte de um universo inicial de 10.000 ações, filtrando para cerca de 200 com base em critérios financeiros e de qualidade, e depois seleciona as 30 melhores com base num indicador de “Quality Value Score”. “Temos um elevado turnover, o que nos permite uma adaptação rápida às oportunidades do mercado”, acrescenta o profissional.
Juan Rodriguez-Fraile, responsável de Vendas para o mercado ibérico, Groupama AM
“A disrupção é um fenómeno que muda as regras do jogo, e identificamos empresas que criam novos mercados, que inovam ou que transformam os seus modelos de negócio”
A Groupama AM, embora prudente, sublinha o otimismo crescente, especialmente no mercado dito “clássico”. Esta confiança decorre do atual contexto de mercado, que, apesar dos desafios, apresenta oportunidades relevantes, tanto no segmento de obrigações como em ações. “Continuamos muito positivos em ações”, reforça Juan Rodriguez-Fraile.
Embora reconheçam que os próximos anos serão desafiantes para o crescimento tanto nos EUA como na Europa, acreditam que os fatores políticos poderão ser determinantes. “As eleições na Alemanha serão um ponto de viragem na Europa”, aponta Juan Rodriguez-Fraile, acrescentando que uma eventual resolução do conflito no continente europeu e um acordo sobre tarifas poderão marcar o início de uma nova fase.
“Acreditamos verdadeiramente que a Europa pode ter um desempenho muito positivo nos próximos anos.” Do outro lado do Atlântico, a expectativa também é favorável.
Groupama Global Disruption
O Groupama Global Disruption, com Rating FundsPeople 2025, foi o fundo destacado na apresentação da gestora. Evidencia-se pela estratégia focada em empresas globais que revolucionam mercados através da inovação disruptiva. “A disrupção é um fenómeno que muda as regras do jogo, e identificamos empresas que criam novos mercados, que inovam ou que transformam os seus modelos de negócio,” explica Juan Rodriguez-Fraile, destacando que o fundo identifica três perfis de empresas: as revolucionárias, que criam novos mercados (como a ASML), as disruptivas, que inovam dentro dos seus setores (como a Palo Alto) e as evolutivas, que transformam os seus modelos de negócio (como a Motorola).
A carteira está fortemente posicionada em grandes tendências globais, com destaque para a transição digital, a inovação em saúde e a transição energética. “O fundo é construído com uma abordagem puramente bottom-up”, assinala. “É uma estratégia que tem demonstrado um desempenho muito robusto, mesmo em contextos de taxas de juro elevadas”, destacou o responsável.
Christian Rouquerol, diretor-geral, Tikehau Capital
“Os bancos fizeram o seu trabalho de casa, e os rácios de capital estão historicamente elevados. Estamos muito confortáveis com isso”
A Tikehau Capital adota atualmente uma postura cautelosa, tanto em obrigações como em ações, num contexto de elevada volatilidade. “Estamos posicionados em duração curta”, afirma Christian Rouquerol, alertando para a possibilidade de maior volatilidade nas taxas de juro norte-americanas. “O que era historicamente um refúgio seguro, como os Treasuries a 10 anos, já não o é”, reforça.
No crédito, a preferência recai sobre a Europa face aos EUA, com destaque para o investimento em empresas financeiras europeias, particularmente o setor da banca. “Os bancos fizeram o seu trabalho de casa, e os rácios de capital estão historicamente elevados. Estamos muito confortáveis com isso”, realça.
No mercado acionista, a gestora também demonstra prudência, mas reconhece oportunidades na Europa, refletidas numa rotação clara da alocação. “Há 1 ano tínhamos 45% em ações europeias e 55% nos Estados Unidos; agora é 60% na Europa e 40% nos Estados Unidos”. Entre os temas preferidos está a soberania europeia, impulsionada pelas tendências de desglobalização e que na perspetiva do profissional “faz todo o sentido neste momento”.
Tikehau Short Duration
O Tikehau Short Duration, “o mais conservador da gama”, foi o fundo eleito para a apresentação. Este fundo, com Rating FundsPeople 2025 e nas mãos do mesmo gestor desde 2009, destaca-se pela gestão seletiva no mercado de crédito europeu e, como o próprio nome indica, por uma duração curta: a de taxa de juro é mantida abaixo de 1 ano, e a de crédito, na prática, entre 1 e 1,5 anos - “bem abaixo da média dos peers”.
Com um universo de mais de 260 nomes em carteira, o fundo é gerido com o apoio de 20 analistas de crédito e combina prudência com flexibilidade: até 35% da carteira pode ser alocada a high yield e até 30% a empresas financeiras, sempre mantendo um rating médio mínimo de investment grade.
Christian Rouquerol destacou o sólido histórico da estratégia, que nos últimos cinco anos duplicou a rentabilidade média do seu peer group, com metade da volatilidade. “A consistência dos retornos vem da simplicidade e da disciplina. A duração não é coberta, é curta por construção”, conclui.